QUERIDA AVÓ



Querida avó,

faz hoje um ano que te levei pela última vez às urgências. Faz hoje um ano da última vez que esperei horas e horas no corredor daquele hospital na esperança de encontrarem para ti uma cura. Faz hoje um ano que entrei, pela primeira vez, nos internamentos de oncologia, onde te deixei na mais profunda esperança de que fosse para melhorares. Faz hoje um ano que pediste para te levar à campa daquele que foi o teu amor… Enquanto lá estiveste, não pronunciaste uma única palavra. Olhaste seriamente para a campa. Estavas estática. Estavas distante. Estavas, agora sei, a visitar a tua nova morada. Quando chegaste a casa, pioraste!

Hoje, olhando para trás com alguma distância, percebo que tu já sabias que estavas diante dos teus últimos dias. O pedido para ires até à campa foi o primeiro sinal. Era raro quereres ir ao cemitério, há vários anos que já não ias lá. Mas naquele dia quiseste ir. Estavas ansiosa por ir. A minha memória leva-me até esse dia… faz hoje um ano!

E até ao dia da tua partida, todos os dias foram de angústia, de tristeza, de revolta, de uma imensa e profunda desolação. O teu estado ia piorando, as notícias eram sempre ruins, o teu estado era grave… cada vez mais grave. Sabemos que nascemos para morrer, que a morte é a única certeza que temos, mas nunca estamos preparados para a enfrentar. Ver-te morrer, foi como morrer uma parte de mim. 
Cresci contigo, durante anos partilhamos o mesmo quarto, trocamos confidências, sorrisos, tristezas… como dizer adeus a alguém que foi uma segunda mãe para nós? Como dizer adeus a alguém que sempre se mostrou vital, inquebrável, uma verdadeira muralha de força? Foste forte sempre! Sofreste tudo em silêncio, sem nunca te queixares de nada. Quando te perguntava se tinhas dores, zangada, respondias que não.

‘Como vai a vida?’, perguntava-te. ‘A vida vai boa!’, respondias.

A vida não ia nada boa, avó… mas tu deste um jeito de parecer que sim. Há um ano, estava a começar a pior semana da minha vida. E eu acreditei tanto – até ao momento em que os médicos me ligaram a dizer que tinhas partido – que ias recuperar! Lembro-me de, no dia anterior à tua morte, ir escolher a roupa que ias levar no caixão a pensar porque o estava a fazer! Para mim tu não ias morrer, tu não ias embora… para mim tu ias ficar aqui, mostrando a todos o quanto eras forte e imortal.  Foste forte, sim! E és imortal no coração de todos aqueles que te amaram, que cresceram a admirar-te pela tua garra e pela tua força.

Faz hoje um ano, que te deixei no hospital, na esperança que melhorasses e voltasses para casa…

1 de novembro 2017


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Fábio Teixeira

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