HÁ AMORES QUE ACONTECEM. O NOSSO NÃO ACONTECEU.

Domingo, 6 de maio.



«Tu e eu fomos feitos um pró outro
Como a noite para o dia
Todo o amor do mundo
Para nós ainda é pouco
Eu sou canção tu melodia

Mas nunca ninguém nos vai poder separar
Pois ninguém separa a Terra do Mar,
Prometo que vou, estar sempre aqui
A um passo de ti»

Há precisamente vinte anos, eram estes os versos que ecoavam nos meus ouvidos. Foi esta a música que viu nascer o meu amor por ti. Era esta a música que me acompanhava, era com ela a tocar que recebia as tuas mensagens.
O tempo voa com uma velocidade atroz! Vinte anos já se passaram e a música continua na minha playlist. Aliás, nunca saiu dos meus discos, do meu MP3, nem do meu iPod. A música não saiu da minha vida, nem tu do meu coração. A música toca e todo o sentimento se revela bem vivo cá dentro.

Intitulei a música como sendo a nossa música. Nunca soubeste disto, mas sempre que a ouço, és tu quem vem ao meu pensamento. És tu que bate a cada batida do meu coração, és tu que percorre o meu corpo, és tu que faz a minha alma sentir-se plena, feliz, viva.

Vinte anos depois, eu mudei, tu mudaste, as nossas vidas mudaram, a história mudou, tudo parece ter-se alterado e acabado de vez. Não sei nada de ti, não pertenço ao teu mundo nem tu ao meu. Agimos como dois desconhecidos, fingimos estar mortos um para o outro, seguimos a vida como se nada se tivesse passado, como se tudo nunca tivesse existido. Seguimos como desconhecidos que se conhecem bem demais.

«Quando quiseres sonhar comigo
Onde estiveres, eu estou contigo
Perto da vista do coração
Até ao fim … 
Prometo que sim

A música volta a ecoar nos meus ouvidos. Viajo até ao passado, mergulho nas memórias de um amor inacabado, incompreendido, jogado ao vento como se nunca tivesse tido valor algum. A música continua a mesma, mas muito se alterou. Hoje não sou mais o mesmo. Já não é a mesma coisa. A letra continua a descrever tudo aquilo que sempre quis que soubesses, a melodia continua a embalar-me e a fazer-me viajar pelo mundo dos sonhos em que vivo mergulhado desde que me conheço, mas já não é a mesma coisa. Já não há esperança em mais nada. Nem num final feliz, nem num destino que parecia querer ver-nos juntos mas que nos fez caminhar por caminhos opostos. Já não existe ligação, não existe laço, não existe uma ponte que ligue os nossos corações e nos faça correr na mesma direção.

«Tu e eu somos fruto da mesma flor
E de ao pé de ti nunca vou sair
Tu e Eu vivemos num mundo melhor
Que só quem ama pode construir.

Mas nunca ninguém nos vai poder separar
Pois ninguém separa a Terra do Mar
Prometo que vou, estar sempre aqui
A um passo de ti»

A música continua e eu continuo a entender todo o seu sentimento. Toda a sua verdade. A vida mudou, os planos que fizemos perderam-se, as promessas ficaram por cumprir, o medo venceu. O medo, a falta de interesse, as mentiras, tudo isso, foi mais forte… Mais forte que o amor que carrego aqui dentro e que, todos os dias, se faz notar.

Há amores que não servem para nada, que vivem por viver, que nunca poderão ter a chance de serem felizes e respirar sem doer. Há amores que se perdem no tempo e outros que se arrastam por ele. Há amores que nos ensinam a ser mais fortes, a rir das desgraças, a não chorar pelo que não tem que ser. Há amores que não podem ser vividos mas que nunca deixam de viver. Há amores tão grandes que só vivem num só coração. Há amores que suportam, que esperam, que aguentam firme, que nunca perdem a esperança, que se mantêm intactos, como se o tempo nunca passasse por eles. Há amores que aceitam que o seu amor fique com outra pessoa, que, à distância, observam tudo e em surdina desejam que ao menos a outra metade seja feliz. Há amores que tomam um analgésico e param de doer. Há amores que nos ensinam a suportar as dores maiores que estão por vir. Há amores que nunca morrem, que nunca irão morrer, que serão a companhia de muitos corações até que os olhos se fechem. Há amores que nunca vão ser vividos, sentidos a dois corações. Há amores que nos ensinam a não chorar a falta, a não chorar a saudade, a aceitar o que a vida ou a outra pessoa quis. Há amores, como o meu por ti, que já não doem, que já não pesam, mas que continuam intactos, profundos e bonitos, como aquelas músicas antigas que se tornam intemporais.   

Há amores que acontecem. O (meu) nosso não aconteceu.

«Quando quiseres sonhar comigo
Onde estiveres eu estou contigo
Perto da vista do coração
Até ao fim … 
Prometo que sim

Há amores que prometem e cumprem. Tu prometeste e não cumpriste.


Fábio Teixeira

Instagram: @fabioteixeira7
Página Facebook: http://facebook.com/fabioteixeiraautor
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