Quantas histórias de amor se perdem pelo medo e pela falta de coragem?

Esta é uma carta emocionante de alguém que amou de forma incondicional. 


Sento-me na cama, pego no meu bloco de folhas e começo a escrever tudo o que o meu coração dita. Deixo-o falar porque tudo o que é dito com o coração é verdadeiro, sentido, totalmente puro. Perco o medo das palavras e da verdade que mantive fechada dentro de mim e escrevo, escrevo tudo, escrevo sem parar.

ESTÁ A LER UM EXCERTO DO LIVRO 'ANTES DE DIZER-TE ADEUS'

LIVRO À VENDA

"«Antes de dizer-te adeus» é um livro que nos faz refletir sobre a vida, sobre a importância de vivermos o presente, sobre o poder milagroso do amor e sobre a tão indesejada morte."

"Uma escrita simples e brilhante. Um livro emocionante com uma mensagem clara: não podemos nem devemos deixar a vida e as pessoas para depois."


 COMPRE AQUI: 

https://cordeldeprata.pt/livraria/antes-de-dizer-te-adeus/

 

   «Duarte, 
ao longo destes anos de ausência escrevi-te várias cartas. Nunca te enviei nenhuma. Ficaram todas guardadas numa gaveta, fechadas a sete chaves, como se fossem um tesouro escondido que guardo só para mim.
Durante todos estes longos anos foram incontáveis as vezes em que recordei o nosso primeiro encontro. Se fechar os olhos ainda consigo lembrar-me dos teus calções de ganga, da camisola azul, da forma como os teus olhos sorriam e do teu sorriso simples, mas radioso. Lembro-me tantas vezes daquela manhã de maio, do sol que reluzia no céu azul. Começámos a falar um com o outro sem ninguém nos apresentar. Não tínhamos amigos em comum. A única coisa que partilhávamos era a escola. Não te sei explicar o motivo, mas desde o nosso primeiro olá senti um à vontade gigante contigo e uma ligação inexplicável que, passados tantos anos, ainda não consegui desmistificar. Depois, com a convivência, comecei a encantar-me pela tua simplicidade, pela humildade que corria nas tuas veias, pela tua alegria e boa-disposição. Em pouco tempo passei a considerar-te como um dos meus melhores amigos.
Estava tão longe de imaginar que me iria apaixonar perdidamente por ti.
Não tens noção da quantidade de vezes que volto ao início da nossa história para tentar perceber em que momento me apaixonei por ti. Será que foi durante a nossa primeira tarde juntos? Será que foi durante um dos muitos almoços na pizzaria? Não te sei dizer nem como nem quando me apaixonei por ti. Quando ficaste um tempo sem me falar, em plenas férias de verão, eu já só conseguia sentir um vazio imenso dentro do meu coração e a tua ausência já era a coisa mais pesada da vida.
Lembro-me dos dias que passei sentada num sofá, a olhar para as paredes, sem ânimo nem vontade para fazer alguma coisa. Era verão, o mar e as noitadas com os amigos chamavam por mim, mas a única vontade que tinha era de falar contigo. Só queria falar contigo, sentir-te perto.
Dei por mim a troçar de mim mesma. Antes de te conhecer, eu só tinha que me preocupar com as relações amorosas dos meus amigos e, de um momento para o outro, estava sem saber o que fazer com o meu coração.
Depois tu voltaste e meses mais tarde, sem mais nem menos, afastaste-te de mim.
Lembro-me tão bem dessa tarde fria de novembro. Lembro-me da tua mensagem seca, mortal, que apenas continha uma palavra: acabou.
Ver-te na escola era um martírio. Ter que me cruzar contigo nos corredores era uma provação. O meu coração batia a uma velocidade vertiginosa, as minhas pernas ficavam bambas sempre que te via sorrir, o meu peito contorcia-se de dor. Aguentar a tua ausência, o teu afastamento, foi uma batalha que nunca venci.
Esse foi o primeiro natal que eu passei sem alegria. O teu silêncio doía-me cada vez mais e, por isso, o natal perdeu o brilho, a essência, a magia que eu desde pequena via nele. Não quis saber de prendas, da árvore de natal, das rabanadas, dos sonhos, da lareira acesa, da família reunida na mesa. O corpo estava presente mas o coração não estava comigo. Aliás, deixou de estar a partir do momento em que decidiu fugir-me do peito para ir atrás de ti.


SIGA-ME NAS REDES SOCIAIS


Um novo ano começou sem grandes expectativas. As aulas retomaram e os nossos encontros diários continuavam a martirizar-me. Ver-te e não falar contigo era terrível, mas tinha que me aguentar porque essa tinha sido a tua escolha. Quem era eu para ir atrás de ti e implorar que ficasses comigo se a tua vontade era outra? Ninguém tem o poder de escolher o caminho de outra pessoa. Por muito que eu quisesse fazer parte da tua vida, a minha vontade não valeria de nada se essa não fosse também a tua vontade.
O tempo foi passando até ao dia em que, inesperadamente, voltaste a falar comigo. «Podemos ser amigos?», dizia a mensagem. Era janeiro. O Sol brilhava no céu. Lembro-me de estar no meio de uma aula e de jubilar de alegria. Nunca me senti tão feliz com tão pouco. Era apenas uma mensagem, mas ao mesmo tempo era tudo o que mais queria que acontecesse na minha vida.
Acedi ao teu pedido e retomámos a amizade. Durante quase dois anos mantivemos contacto todos os dias, almoçávamos juntos, passávamos tardes juntos, íamos ao cinema juntos, fazíamos planos juntos, construímos os dois grandes sonhos para o futuro. Lembro-me da primeira vez que disseste que me amavas, da primeira vez que me chamaste de tua vida, da primeira vez que, quase em silêncio, me chamaste de amor. Éramos amigos especiais que de amigos tinham muito pouco. Ainda te lembras do que me prometias? Ainda te lembras das vezes em que, mesmo chateada contigo, te estendia a mão e te ajudava em tudo o que podia? Ainda te recordas daquela vez em que te falei de viva voz do sofrimento que me causavas com as tuas atitudes? Eu ainda me lembro de te ver sentado, com os cotovelos apoiados nos joelhos, de cabeça baixa, e das lágrimas silenciosas que percorriam o teu rosto. Foi assim que ficaste nesse dia em que te abri o coração e te falei de como me fazias sentir. E foi aí que percebi que não eras má pessoa, só não sabias como lidar com o que sentias por mim. Fosse lá o que fosse.
Um dos momentos mais mágicos da minha vida foi vivido ao teu lado. Quando fecho os olhos ainda me consigo recordar de todos os pormenores: o ligeiro nevoeiro propício dos dias de novembro, o frio de rachar, a escola e a rua sem vivalma e o silêncio acolhedor. Ainda nos consigo ver sentados no pequeno banco amarelo, com os olhos presos um no outro, e os dedos das nossas mãos a entrelaçar-se lentamente. Naquele momento, sei que nos fundimos um no outro e que, por breves instantes, a minha alma tocou no céu. Nunca me senti tão plena, tão apaziguada, tão feliz. E por longos segundos ficámos ali, mergulhados um no outro, como se fôssemos duas estátuas imortalizadas pelo tempo. Naquele momento só existíamos nós e o mundo à nossa volta tinha desaparecido. Esse é o momento mais incrível da minha vida e é aquele que guardo na memória e nas profundezas do meu coração até hoje.
Mas depois tu voltaste a afastar-nos. Mais uma vez a agonia, a tristeza e a dor. Sentia-me impotente, sem saber como me erguer da queda, nem imaginar como poderia retomar a minha vida porque não sabia onde estava o meu coração. E passaram-se longos e intermináveis meses até decidires voltar. A tua sorte é que eu ficava sempre no mesmo lugar: à tua espera. Como se eu fosse um aeroporto que nunca sai do lugar e que chorava as tuas partidas e ansiava os teus regressos.
E mais uma vez, a vida, o universo, ou seja lá quem for que decide esta merda do amor, fez-me entender que a dimensão da minha ligação a ti era bem maior do que eu imaginava. A ligação era tão, mas tão forte, que me lembro de ter sonhado com o teu regresso um dia antes dele acontecer.
E no dia a seguir, sem mais nem menos, entro no Facebook e lá está: Duarte fez-te um pedido de amizade. Estava tão magoada que, desta vez, esperei uns dias até te aceitar. Repensei em tudo o que me tinhas feito, tentei dar ouvidos à razão e manter-me com os pés no chão. Mas o meu coração voltou a ganhar à razão e eu voltei a cair nos teus braços. Voltei a ouvir as mesmas promessas de sempre, as palavras carinhosas que me aqueciam a alma, tu voltaste a ajudar-me a construir um futuro idílico que anos mais tarde voltaste a roubar-me.
Apesar das tuas atitudes dúbias e das mentiras em que te apanhei diversas vezes, eu mantinha-me fiel ao que sentia e continuava a dar-te sucessivas oportunidades na esperança vã e quase inútil de que um dia tu mudasses a tua postura e realizasses o meu sonho e ficasses para todo o sempre ao meu lado. E por isso fui aguentado tudo: as tuas curtes com outras raparigas, as tuas aventuras sexuais, os teus engates esporádicos, as tuas constantes indecisões, os teus avanços e recuos. Amava-te tanto que até te ajudei a namorar com outras raparigas. Porque acima de mim estavas sempre tu. Tu e a tua felicidade. Foi aí que descobri que o que sentia era mesmo amor. Porque só quem ama alguém de verdade, com toda a alma e coração, tem a coragem de abdicar de si mesmo em prol da outra pessoa. Algumas pessoas chamam a isso de burrice, outras de coragem. Eu chamo-lhe um grandioso ato de amor. Não há nada mais divino do que amar alguém de verdade.
E o tempo foi passando e a nossa relação foi-se mantendo sempre igual. Tu prometias-me o mundo, eu esperava e tu empatavas. Recuavas sempre. Por medo, por cobardia ou porque afinal tu não me amavas tanto como me dizias tantas e tantas vezes. Acho que entre nós sempre viveu o preconceito. E tu deixaste que esse preconceito se transformasse num muro grandioso impossível de escalar. Eu ter ascendência cigana era um empecilho. Já reparaste que as grandiosas histórias de amor são sempre assombradas pelo medo ou pelo preconceito? Há pessoas que nunca ficam juntas por causa da religião, da sexualidade, da diferença de idades, da cor da pele, da etnia ou das classes sociais. Quantas histórias de amor se perdem pelo medo e pela falta de coragem? Tantas. Mais do que aquelas que conseguimos imaginar, certamente. E, às vezes, perdemos o grande amor da nossa vida por não termos reconhecido o seu valor e o seu verdadeiro lugar nas nossas vidas.
Passaram anos e eu aguentei tudo e mais alguma coisa até ao dia em que me cansei de esperar, de fantasiar, de viver sozinha num amor impossível que não tinha jeito de se tornar possível. Então afastei-me, não por falta de amor, mas pelo excesso dele. Pela primeira vez na vida, depois de te conhecer, arrisquei uma mudança. Estava exausta do círculo vicioso em que vivíamos. A bem dizer: não saíamos da cepa torta e era sempre tudo igual. Foi isso que me levou a um nível de cansaço e de desânimo sem precedentes.
Lembras-te daquela vez em que estavas a morrer de medo de ter engravidado uma rapariga? Lembras-te do pânico que sentiste ao pensar que podias ser expulso de casa por causa disso? Lembras-te quem te apoiou e quem te prometeu estar sempre ao teu lado independentemente do que acontecesse? Eu. Como sempre. Nem essa possibilidade, que me doeu bem no fundo da alma, me afastou de ti. Aguentei tudo por ti. Até o que todos consideram ser insuportável.
Sofri muito por ti. Mais do que possas imaginar. Eu nunca te contei que entrei numa depressão, que recorri a psicólogos, que tomei antidepressivos. Eu nunca fui totalmente honesta contigo nesse ponto. Porque nunca te quis colocar esse peso nas costas e porque apesar de tudo, quando me lembro de ti, eu percebo que és boa pessoa e que, infelizmente, não soubeste ser melhor para mim. Mas eu também falhei contigo por ser totalmente dependente de ti, da tua presença, do teu amor. A minha vida eras só tu e isso estava totalmente errado. Pus nas tuas costas o peso da minha felicidade e hoje percebo que esse foi um dos meus maiores erros. Nunca devia ter-te cobrado tanto nem te ter sufocado. Reconheço as minhas falhas, mas não posso concordar com a última mensagem que me enviaste quando te disse que me ia afastar: «como queiras». Nunca nada foi como eu quis. Tu sempre foste e voltaste quando quiseste, tu só fazias o que tu querias e quando querias. Eu ficava ali, a ver a tua vida acontecer enquanto a minha estava parada no tempo, à espera que um milagre acontecesse. Eu sempre quis que fosses feliz e sei que fiz o que pude para que isso acontecesse mesmo quando isso me levava a um sofrimento atroz que não desejo a ninguém neste mundo. Por causa do amor grandioso que ainda hoje sinto por ti, fechei-me em casa durante anos, afastei-me das pessoas, perdi a minha autoestima, afundei-me na tristeza e na solidão, permiti que os anos passassem por mim sem que eu percebesse a importância deles na minha vida. A única coisa boa que me aconteceu foi a escrita. Foi por te amar que ganhei o gosto pela escrita e que compreendi o poder das palavras e até onde elas podem chegar quando proferidas com sentimento e verdade. As cartas que te escrevi e que nunca te enviei foram a forma que encontrei para imortalizar o meu amor por ti e sei que se algum dia as leres elas vão tocar-te o coração. Porque escrevi-as com amor. Com todo o amor que uma pessoa consegue sentir por alguém neste mundo.
As cartas também foram uma maneira eficaz de te manter presente na minha vida depois de me ter afastado de ti. Tu seguiste a tua vida, encontraste outra pessoa, construíste novos sonhos e planeaste um novo futuro, mas eu continuei contigo agarrado ao meu coração. Levei-te sempre comigo para todos os lugares por onde passei e cada fotografia que tirei foi no intuito de um dia te mostrar. Podes não acreditar, mas estiveste sempre comigo nos meus pensamentos e em todos os lugares. Levei a pulseira que me deste para os meus primeiros dias no meu primeiro emprego, guardei uma das nossas fotografias no meio de um caderno de anotações que anda para todo o lado comigo e sempre que preciso de inspiração para escrever mergulho nas memórias que tenho de ti e que foram, durante muitos anos, a única coisa que tinha de ti.
O tempo foi reconstruindo o meu coração e a vida foi ficando mais leve. Passei a amar-te sem dor, sem ressentimentos, nem mágoas. O meu amor por ti, apesar de intenso e voraz, permitiu-me viver sem tantas lágrimas e tanta tristeza. A tua ausência, que pesava todos os dias, começou a pesar cada vez menos. O tempo é grandioso. Ele não cura nada, não apaga nada, mas ameniza tudo.
Não te vou mentir e dizer-te que não me doía ver as tuas fotografias com a tua namorada... mas até isso eu aceitei. Aceitei a tua felicidade porque sempre foi o que eu mais quis. E se ela te fazia feliz eu só podia ficar feliz por ti. Às vezes, quando me sentia triste por ver a tua felicidade, martirizava-me. Culpava-me por me sentir mal. Mas qual é a pessoa que consegue ver o seu grande amor com outra e que não se deixa consumir pela tristeza?
Foi quando percebi que eu era apenas uma pessoa e não a heroína trágica de uma novela qualquer, e que não era obrigada a fingir que não tinha sentimentos, que me senti mais leve e percebi que eu podia ficar triste e que chorar é a forma mais eficaz de aliviar o que nos corrói o peito e dilacera a alma.
Não te estou a contar tudo isto para te sentires culpado. Não quero que o meu sofrimento te pese nas costas. Quero apenas que percebas o quanto te amei através de tudo o que eu sofri. Porque ninguém escolhe passar pelo que eu passei e muito menos apaixonar-se desta maneira tão profunda e incondicional. Acho que já deves ter entendido que o amor não é uma escolha. O amor é como um acidente, uma doença, uma tragédia, que acontece sem que queiramos que aconteça e que acaba por mudar, para sempre, toda a tua vida.
O meu amor por ti mudou e matou muita coisa em mim. Mas também me tornou numa pessoa melhor e muito mais sábia. Hoje sou uma pessoa mais atenciosa, menos egoísta, que olha para o mundo e valoriza o que ele tem de melhor. Percebi que não é um carro topo de gama nem uma casa bonita que vai fazer-me mais feliz. A felicidade está nas coisas pequenas da vida e a quem quase ninguém dá importância. Se há coisa que aprendi com tudo isto é que o amor tem um poder transformador na nossa vida e que ele nos dá forças inesgotáveis para vencer o tempo, a ausência, a tristeza e a própria vida. Sofri muito, é verdade. Mas amei muito também. E isso vale tanto. Isso significa tanto. Principalmente nos dias atuais em que ninguém valoriza nada… muito menos o amor.
É fácil amar quem nos dá sempre o seu melhor, mas eu acredito que as pessoas que mais no amam são aquelas que, mesmo conhecendo o nosso pior e tendo todos os motivos do mundo para ir embora, ficam.
Vivemos num tempo em que as pessoas acreditam que os finais felizes não existem e que o amor é a maior invenção à fase da terra, mas eu acredito nos finais felizes. Acredito no amor. Acredito nas histórias de amor que nem o tempo nem a vida conseguem apagar. Eu acredito que, às vezes, é necessária uma separação para que cada pessoa compreenda o valor da outra e que, por muitos caminhos que o mundo possa oferecer, o melhor caminho a percorrer é aquele que nos possibilita estar perto daquela pessoa que nos ama e que nos ajuda a ser melhores.
Cada história tem um timing. Talvez o nosso ainda não tenha chegado.
Estou a escrever-te tudo isto porque a minha doença fez-me entender que não devo silenciar o meu coração e muito menos fingir que não sinto nada quando sinto tudo. Não quero ser mais uma dessas pessoas que morre sem dizer o que sente e sem demonstrar, de alguma forma, os seus mais profundos sentimentos. Não quero levar comigo o peso de um «amo-te» nunca dito.
Por medo, durante anos, escondi-te a dimensão do meu amor por ti.
Hoje quero dizer que te amo. Contra tudo e contra todos, apesar de tudo o que aconteceu e nos desuniu.
Para sempre tua.
Mariana.»


Quer saber como termina esta história?
Compre o meu livro.
Já está disponível no site da editora Cordel d'Prata, na Wook e nas livrarias Bertrand.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

O ETERNO DINO

A VIDA E O AMOR DÃO MUITAS VOLTAS

GERAÇÃO MORANGOS