A minha sentença foi mais do que clara: leucemia



O consultório mantém-se igual à primeira vez que aqui estive. As paredes pintadas de cor-de-rosa claro e a janela com vista para a foz são-me familiares. Foi neste mesmo espaço que descobri que tinha leucemia. Ainda recordo esse dia, do quanto ele mudou toda a minha existência. O cansaço extremo, os sangramentos frequentes, a gengiva que se rompia sucessivas vezes, a apatia, as dores musculares, a falta de apetite, não eram consequência da agitação diária nem da depressão em que vivia desde o dia em que a vida me afastou do Duarte; tudo isto eram sintomas de uma doença que surgiu para mudar a rota da minha vida. Depois de toneladas de exames ao sangue, de uma biopsia à medula e do hemograma que o hematologista pediu que eu fizesse, a sentença foi mais do que clara: leucemia. Lembro-me de ter deixado de ouvir a médica a partir do momento em que ela pronunciou a palavra leucemia. Por momentos, deixei de sentir o coração bater e tudo à minha volta parecia ter parado. Como se alguém tivesse colocado a minha vida em modo pausa. O sangue contaminado que percorria as minhas veias estava congelado. Percebia que a boca da doutora Ana se movia, mas eu não conseguia ouvir uma única palavra. Fiquei surda para o mundo. Dentro da minha cabeça, lembro-me que ecoava um apito assombroso, muito similar ao som de um alarme. Não era o meu carro, nem a minha casa que estavam a ser assaltados; era a minha vida. E eu senti-me tão impotente. Não sabia o que fazer para a salvar… 

    LIVRO À VENDA

"«Antes de dizer-te adeus» é um livro que nos faz refletir sobre a vida, sobre a importância de vivermos o presente, sobre o poder milagroso do amor e sobre a tão indesejada morte."

"Uma escrita simples e brilhante. Um livro emocionante com uma mensagem clara: não podemos nem devemos deixar a vida e as pessoas para depois."


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Quando percebi o que me estava a acontecer, lembro-me de ter sido invadida por um choro compulsivo e copioso capaz de abalar todos à minha volta. A minha mãe parecia incrédula com tudo aquilo. O meu pai, encostado à parede do consultório, petrificara. A minha vida estava terrivelmente ameaçada. Foi nesse exato momento que percebi o que nunca ninguém entende: não temos o tempo todo do mundo à nossa espera. A vida é mais finita do que julgamos e a morte bate à nossa porta a qualquer instante, mesmo quando nos julgamos felizes, com uma saúde de aço. O tempo só é inesgotável para o próprio tempo. Há uma frase muito bonita, não me recordo agora do nome do autor, que diz que não é o tempo que passa por nós, somos nós que passamos por ele. Nada tão verdadeiro. Nada tão certeiro.
A vida dá voltas inesperadas. De um segundo para o outro, a estrada em que seguimos desaparece e só nos resta inverter a marcha e procurar um atalho que nos leve até ao nosso destino. Foi isso que eu fiz no último ano. O tratamento invasivo, exaustivo, corrosivo, foi o único atalho viável para conseguir seguir em frente.

REDES SOCIAIS DO AUTOR

Passei por mais de 30 sessões de quimioterapia até conseguir que a leucemia tivesse uma remissão. No meu corpo foram espetadas milhares e milhares de agulhas. Roubaram-me sangue todos os dias, mas também recebi-o quando precisei. Perdi o cabelo, as pestanas, a cor rosada. A pele ficou flácida e sedosa. O meu corpo duplicou de tamanho devido aos corticoides. Durante semanas, a cadeira de rodas foi o meu meio de transporte devido à forte anemia que insistia em não me largar. A minha casa passou a ser um minúsculo quarto de hospital com vista para o oceano Atlântico e para a Foz do rio Douro. Nunca mais fui ao McDonald’s nem à pizzaria que amo, onde fazem a melhor pizza havaiana que comi em toda a minha vida. Refrigerantes e bebidas com gás foram eliminados. Passei a fazer uma dieta rigorosa que nem nos meus piores pesadelos a imaginava. 
A leucemia veio para mudar tudo. 
E mudou tudo. 
A minha vida, principalmente.
Hoje, não sou mais aquela Mariana que teve um ataque de pânico neste consultório. Já nada me assusta. Nem mesmo a ideia de morrer amanhã. De tão dura, a vida ensinou-me que se tem que ser, vai ser. Querendo ou não. Resistindo ou não. Quem pensa que controla a vida, ainda não apanhou um susto a sério. A vida é só o que ela quer. E tem um caminho próprio, coberto de neblina, totalmente misterioso, que nós só vamos descobrindo à medida que formos dando mais um passo.

Acabou de ler um pequeno excerto do meu primeiro livro “Antes de dizer-te adeus”. Já está à venda. Desfrute desta história inspirada numa situação real que, com toda a certeza, o levará a refletir sobre a existência de cada um de nós.


Sobre o autor: 

Nasceu a 25 de fevereiro de 1992, na cidade de Vila Real. Viveu toda a sua vida na pequena aldeia de Fiolhoso, no concelho de Murça. Diz que o seu signo, Peixes, o define. Em 2011, concluiu o ensino secundário na área de Línguas e Humanidades. Apaixonou-se pelos livros quando sofreu o seu primeiro desgosto de amor e encontrou nos romances da autora Margarida Rebelo Pinto a sua maior inspiração. Romântico, sentimental e espiritualista, Fábio Teixeira usa a escrita para tocar o coração dos leitores, levando-os a refletir com as suas histórias. 






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