Não há nada pior do que ver partir quem amamos sem poder fazer nada para que eles possam ficar.
Os últimos dias têm sido agonizantes. A Mariana passa grande parte do
tempo a dormir. A infeção respiratória está a vencer a sua força de viver e a
sua enorme vontade de permanecer no mundo. Praticamente não fala, não come, não
interage com as visitas e até abrir os olhos já é um esforço imensurável para
ela. Ela está a viver em esforço. Até respirar lhe custa.
Eu passo os dias neste quarto de hospital. Durmo, como, vivo aqui. E por mais que o sol, o mar, a vida lá fora, por mais que tudo isso seja convidativo, nada consegue ser mais forte que a minha vontade de permanecer ao lado da Mariana até ao fim. Foi isso que lhe prometi e é isso que quero cumprir. Não quero nunca mais carregar nas minhas costas o peso das promessas não cumpridas, dos sonhos que nunca me esforcei para realizar e dos momentos que deixei passar por medo e cobardia de os viver. Não quero deixar a minha vida para depois. Aprendi a nunca mais depositar tudo num futuro que pode nunca chegar ou mesmo acontecer. É apenas no presente que as coisas acontecem.
Eu passo os dias neste quarto de hospital. Durmo, como, vivo aqui. E por mais que o sol, o mar, a vida lá fora, por mais que tudo isso seja convidativo, nada consegue ser mais forte que a minha vontade de permanecer ao lado da Mariana até ao fim. Foi isso que lhe prometi e é isso que quero cumprir. Não quero nunca mais carregar nas minhas costas o peso das promessas não cumpridas, dos sonhos que nunca me esforcei para realizar e dos momentos que deixei passar por medo e cobardia de os viver. Não quero deixar a minha vida para depois. Aprendi a nunca mais depositar tudo num futuro que pode nunca chegar ou mesmo acontecer. É apenas no presente que as coisas acontecem.
LIVRO À VENDA
"«Antes de dizer-te adeus» é um livro que nos faz refletir sobre a vida, sobre a importância de vivermos o presente, sobre o poder milagroso do amor e sobre a tão indesejada morte."
"Uma escrita simples e brilhante. Um livro emocionante com uma mensagem clara: não podemos nem devemos deixar a vida e as pessoas para depois."
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Observo as gaivotas desenhadas na parede do quarto enquanto bebo um chá e mastigo umas bolachas de água e sal. Tenho a certeza absoluta de que emagreci nos últimos dias. Confesso que pouco me alimento. Ver a Mariana neste estado de agonia deixa-me sem apetite, sem vontade para nada. Faria qualquer coisa para a libertar deste sufoco, desta provação. Daria a minha vida, os meus pulmões, o meu sangue, daria tudo o que pudesse dar para a salvar. Porque neste momento o meu maior desejo é que Deus a salve. Tenho rezado muito na pequena capela do hospital. Passo lá horas e a horas, a suplicar a Deus, a pedir-lhe encarecidamente que ele liberte a Mariana e lhe conceda um milagre. Porque neste momento só um milagre divino será capaz de a salvar. Neste momento só Deus tem o poder de reverter a situação.
Na hora da morte de um ente querido, depositamos tudo nas mãos de Deus porque percebemos o quão impotentes somos. E eu tenho-me sentido muito impotente. A impotência que me consome e corrói por dentro abala-me, derruba-me, estraçalha-me. Sinto-me sem forças, sem ânimo para continuar. Não há sensação pior do que sentirmos que não podemos fazer rigorosamente nada para poder salvar quem amamos da morte. Não há nada pior do que ver partir quem amamos sem poder fazer nada para que eles possam ficar. Nós não somos nada nem ninguém no mundo e na vida manda a própria vida.
Calmamente aproximo-me do corpo inerte da Mariana, pouso a minha mão na sua, acaricio-lhe o rosto pálido e questiono-a: «Para quê amar? Para quê ficar dependente de alguém que se pode perder a qualquer momento?». Esta é mais uma das muitas perguntas que lhe tenho feito e mais uma que ela não consegue responder. Porque não tem forças, porque só encontra paz a dormir.
O ruído da sua respiração é pavoroso e o barulho das máquinas que auxiliam a sua respiração é infernal. Estou saturado de ouvir pi, pi, pi, pi, pi, pi. Queria tanto voltar a ouvir a voz da Mariana. Queria tanto que ela pudesse mover os seus lábios e sussurrar-me mais uma vez a palavra amo-te. Queria tanto recuar no tempo, mudar tudo o que fiz de errado e viver ao lado dela todos os anos que perdemos e que jamais conseguiremos recuperar.
Às vezes parece que Deus brinca connosco. Agora que, finalmente, dei ouvidos ao meu coração e entendi que tenho mesmo que viver o que sinto, Deus tira-me essa possibilidade e arranca de mim a única pessoa que algum dia poderei chamar de alma gémea. Porque é isso que a Mariana é: a minha alma gémea, a minha companheira de todas as vidas, o único ser que me completará para sempre.
Pego numa das últimas cartas que ela me escreveu.
Começo a lê-la em voz alta, mas rapidamente a minha voz ensurdece.
«Sabes que nem sempre as almas gémeas se reconhecem. Pode acontecer que nunca se reconheçam, como pode acontecer que só uma reconheça a outra. Normalmente a alma mais evoluída tende a reconhecer a outra imediatamente. Foi isso que me aconteceu desde a nossa primeira conversa. Eu reconheci-te. Eu soube, naquele preciso momento, que nasci para te encontrar. O nosso encontro nesta vida foi a melhor coisa que me aconteceu. Trouxe-me muito sofrimento, mas também me trouxe a maravilhosa sensação de amar alguém incondicionalmente. Duarte, tenho a certeza de que a morte nunca será capaz de derrubar nenhum verdadeiro amor. E acredito que quando partirmos deste mundo, um novo mundo nos esperará, uma nova vida começará, uma outra história será narrada. Quando os meus olhos se fecharem, irei feliz. Porque te encontrei. Porque te amei. Porque cumpri a minha missão. E mesmo não sabendo o que me espera depois da morte, eu acredito que estarei sempre a ver-te e pronta para te receber de braços abertos quando chegar a tua hora de partir.»
Tento travar as lágrimas que nascem nos meus olhos, deslizando descontroladas pelo meu rosto. Quero emprestar toda a minha força à Mariana, mas confesso que estou a desvanecer. Preciso tanto da Mariana comigo. Preciso tanto do amor dela para viver. Preciso tanto que ela não me abandone.
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O livro 'Antes de dizer-te adeus' tem sido alvo de muitas críticas positivas por parte dos leitores. |
Agarro a sua mão com força. Deito a minha cabeça no seu peito. Fico
longos e intermináveis minutos a ouvir o seu coração bater. A minha casa ainda
está intacta. Mas até quando? Até quando o coração da Mariana vai continuar a
bater? E quando parar de bater o que será de mim? Como viverei depois sem ter o
seu coração como o meu maior abrigo?
- Mariana, fica comigo. Por favor. Eu estou aqui contigo. Nunca mais te largarei. Nunca mais. Fica comigo, por favor. Fica. Fica, meu amor.
Entrego-me a um choro copioso e dolorido.
Neste momento é tudo o que me resta.
- Mariana, fica comigo. Por favor. Eu estou aqui contigo. Nunca mais te largarei. Nunca mais. Fica comigo, por favor. Fica. Fica, meu amor.
Entrego-me a um choro copioso e dolorido.
Neste momento é tudo o que me resta.
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