Podem passar mil anos, vamos sempre ser parte da história um do outro


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TRECHO FICCIONAL DO LIVRO «ILHA DOS AMORES»



   Ainda te lembras de como tudo começou? Passaram dez anos mas eu recordo-me como se o tempo não tivesse passado e como se ele não tivesse a importância que tem. Foi durante o caminho para a escola que, sem saber bem porquê, te colocaste a meu lado e me falaste sem qualquer motivo. Já nos conhecíamos de vista mas nunca tínhamos tido contacto. 
Naquele dia, que tinha tudo para ser um dia como todos os outros, tudo mudou. Aquela pequena e trivial conversa até ao portão da escola foi o início do que ainda hoje guardo dentro do meu coração. Foi uma conversa curta, banal, mas que surgiu de maneira tão natural e tão instantânea, que sem saber bem porquê, continua a sete chaves, guardada na caixinha das memórias. Passaram-se muitos anos, muita coisa aconteceu, muito mudou nas nossas vidas e em nós mesmos. Quando olho para trás compreendo o quanto o tempo foi corrosivo para a nossa história. Será que posso chamá-la de nossa?

É engraçado olhar as coisas com esta distância de anos e perceber como as coisas podem começar vindas do nada, sem que haja um aviso, simplesmente acontecem e mudam toda a nossa existência. Tu apareceste do nada e alteraste tudo. Os únicos dias da minha vida em que não pensei em ti ou desejei partilhar algo contigo, foram os dias que vivi antes das nossas vidas se cruzarem. Daí adiante, nada foi como dantes.

Antes desse encontro, vivia tranquilamente com os amigos de sempre, nos mesmos lugares de sempre, mas ainda assim, vivia tranquilamente e feliz. Estava com o coração sereno e vivia em paz no meu mundinho. Tudo normal para uma pessoa da minha idade… até tu apareceres.

Não sei explicar nem como nem porquê mas sempre senti uma afinidade esquisita contigo. Éramos o avesso um do outro, com ideias de vida diferentes, desejávamos coisas opostas, mas ainda assim nos conectámos. Fomos um para o outro o que nunca seremos para mais ninguém. A forma como vivemos o que nos ligou, nunca a viveremos outra vez. Essa é uma realidade da qual nem eu e nem tu poderemos fugir. Podem passar mil anos, vamos sempre ser parte da história um do outro. Talvez não falemos dela a ninguém, mas viverá dentro de nós, guardada num pretérito nada perfeito que ainda mora dentro do meu coração.

Gostei muito de ti. Da tua simplicidade e humildade. Da tua garra e determinação. Do teu feitio tipo balança e dos mimos que me davas. Gostei da primeira vez que me chamaste amor e da primeira vez que, inesperadamente, me disseste, quase em silêncio, «amo-te». Gostei tanto de ti e dos nossos planos para o futuro. Gostei muito de ti e das palavras bonitas que me escrevias. Dos mil textos que escrevi inspirados em ti. Gostei tanto de ti e das músicas que ouvimos juntos. Gostei muito de ti e dos muitos momentos, simples mas bonitos, com que a vida nos presenteou. Gostei de ti como ainda hoje gosto, como provavelmente vou sempre gostar. E não importa se hoje vivemos como dois desconhecidos, como duas pessoas que nunca se cruzaram ou, pior ainda, como se estivéssemos mortos um para o outro, nada disso importa, porque o que ficou lá trás foi vivido de uma forma tão diferente que nunca poderá ser esquecida. Tu és parte das minhas memórias como eu serei sempre parte das tuas. 

Pode ser que hoje me olhes de outro modo, pode ser que passem meses sem que te lembres de mim, pode ser que estejas feliz nos braços de outro alguém, pode ser que os sonhos que partilhaste comigo já se tenham realizado, pode ser que não sintas saudades minhas... eu não sei, só sei que estejas onde estiveres, num dia qualquer, sem que queiras ou sem que estejas à espera, eu vou aparecer nas tuas memórias. Porque faço parte delas. E porque sei que de algum modo te marquei, te ensinei alguma coisa, te fiz pensar de outro modo ou te ajudei a seres o que és hoje. Tu passaste na minha vida e mudaste-a por completo. Nunca mais fui a mesma pessoa e o meu coração nunca mais voltou ao seu lugar.

O tempo passou mas não apagou nada. O caminho que cruzou os nossos mundos continua o mesmo, mas nós, infelizmente, não.


Fábio Teixeira

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