O Fim é um recomeço | Texto do livro «Não vale a pena amar sozinho» de Fábio Teixeira
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E foram tantas as horas que eu perdi a olhar para o telemóvel à espera de uma resposta, de uma mensagem. Foram tantos os dias que passaram pelo calendário até que eu conseguisse reunir forças para fazer o que tinha que ser feito. Até que, naquela tarde quente de agosto, ganhei coragem e apaguei o teu número, as conversas, tudo o que me fizesse lembrar de ti. Lembro-me de sentir o meu coração apertado, como se o meu peito se tivesse estreitado e uma força maligna o estivesse a tentar destruir. Mas eu não podia continuar a permitir que ninguém, nem mesmo tu, a pessoa a quem tanto me dediquei, de quem tanto gostei, por quem me sentia capaz de mover céus e terra, por quem daria tudo, me entristecesse daquela forma. Eu não o merecia. Muito menos depois de tudo o que havia feito por ti quando o teu coração se desfez em pedaços e eu fui o teu único porto de abrigo. Já reparaste que eu entrei na tua vida para te auxiliar no teu período de tristeza e que tu acabaste por ser o motivo da minha?
Eu não merecia a tristeza que me ofereceste. Não, eu não merecia nada daquilo. Eu não merecia sentir aquele vazio maior que o deserto do Saara que todos os dias invadia o meu peito. Eu não merecia viver dentro daquele cansaço extremo de tudo. Eu não merecia ver-me à mercê de alguém que nunca soube valorizar o bom que a vida lhe deu de bandeja. E o facto de ter essa consciência ajudou-me a seguir em frente.
Mas, confesso, doeu.
Doeu muito.
Passei por dias em que tudo o que mais desejava era desaparecer ou sair do meu corpo para deixar de me sentir tão triste. Porque deixar-te para trás custou-me muito, mais do que alguma vez possas imaginar. Mas foi necessário. Eu não podia desfazer-me mais por alguém que não faria o mesmo por mim. Eu não podia continuar a morrer um pouco mais a cada dia. Eu sentia-me a enfraquecer, como se de repente uma força invisível me sugasse a energia. Por mais que se goste de uma pessoa, há certos limites que nunca podemos ultrapassar em nome desse sentimento. A não ser que nos queiramos arruinar. A não ser que queiramos morrer.
E eu percebi que queria viver. Que merecia sorrir, sentir-me leve, respirar sem dor, passar pelos dias sem me sentir um peso morto, um fardo que vagueava pelas ruas sem direção. Por tudo isto, eu segui. Apesar da tristeza que ainda me assombrou por um longo tempo e do vazio imensurável que no meu peito fez morada. Chorei noites a fio como se fosse uma criança perdida num lugar inóspito e escuro. Sofri muito, mesmo depois de romper todo o tipo de ligações contigo. Mas hoje, tanto tempo depois, percebo que amadureci neste longo, doloroso e penoso caminho. Hoje não sou tão vulnerável como era. Já não me sinto tão frágil como sempre fui. Percebi que existem histórias que temos que viver para endurecer. Afinal, essa é a missão da vida: endurecer as pessoas, torná-las máquinas de guerra, combatentes e resilientes, que lutam dias a fio por um final feliz que poucas vezes acontece.
A vida vira-nos do avesso e a cada volta que ela dá mais compreendemos que poucas coisas são definitivas, que o para sempre é uma utopia, a maior invenção dos escritores. A vida tem sempre continuidade mesmo quando sentimos que ela acabou, que dali para a frente não há mais sentido para nada, que não há mais nada para acontecer.
O fim é um recomeço.
E todos os recomeços começam a partir do nada que ficou do fim.
Texto do livro 'Não Vale a Pena Amar Sozinho' do escritor Fábio Teixeira
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